Aikido e o isolamento

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Desde o mês de março, a rotina dos brasileiros, e agora de vários países do mundo, senão do mundo todo, mudou: estamos em casa por conta de um vírus bastante contagioso, e portanto, sem contato com as pessoas que não fazem parte da nossa rotina do dia a dia. Decisão que começou tímida, diante de uma realidade que não entendíamos muito bem, e que agora requer isolamento total, devido aos fatos e avanços de pessoas doentes que temos presenciado aqui no Brasil e no mundo.

Diante disso, empresas e escolas fecharam, o comércio parou e os dojos paralisaram suas atividades, deixando uma sensação de solidão em várias pessoas.

A parte boa disso tudo é que a comunidade aikidoca, tão acostumada a “cair e levantar”, se mobilizou e temos visto muitos dojos, senseis e até alguns alunos trazendo opções e oportunidades de treinamento “in house”, seja através de vídeos gravados com exercícios, “lives” com os senseis presentes em tempo real, sugestões de alongamento para aikidocas (aiki taiso), treinos individuais (hitori geiko) e até estudos teóricos sobre essa prática.

O bacana é que, apesar do aikido ser uma prática que você “precisa” do outro para treinar, tem sido muito interessante fazer esses exercícios sozinha e refletir como tudo o que você vivencia no tatame pode ser um pouco mais explorado e estudado nesse momento de isolamento. O tempo que sempre foi nosso inimigo, está a nosso favor nesse instante. É hora de reflexão, observação, correção e estudos. E claro, uma dose extra de disciplina pois quando se está sozinha a gente tende a procrastinar, ficar preguiçosa e deixar para depois aquilo que pode ser feito agora. E muitas vezes esse “depois” não volta…

Tenho feito muitas perguntas em relação a essa quarentena do planeta: qual será o resultado final de tudo isso? Sairemos fortalecidos? Mais frágeis? Ou fortes? Resilientes? Qual mundo encontraremos depois desse afastamento social?

Ainda é cedo para essas respostas. Mas o que tenho percebido é que o aikido me ajudou e tem me ajudado a enfrentar tudo isso de uma forma mais confiante: “caia 7 vezes, levante 8” (Nana korobi ya oki). Porém nem todo mundo consegue ficar bem longe de tudo, do contato das pessoas… e apesar de confiante, nem todos os dias estamos tranquilos ou serenos, porque muitas vezes não podemos lidar com aquilo que não conseguimos nomear.

Outro dia eu li num artigo sobre como lidar com eventos traumáticos, que esse desconforto, essa ansiedade que estamos sentindo é um “luto antecipado”. E que se conseguimos “dar esse nome pra esse sentimento” então podemos lidar com ele. Como uma doença: se você sabe o que tem, sabe qual remédio tomar. O artigo dizia que o luto antecipado é esse sentimento sobre um futuro incerto, confuso, que não conseguimos prever ou controlar. Só ficamos tranquilos e confiantes quando temos o poder, o controle nas mãos. Caso contrário, tentamos arranjar argumentos, desculpas e um culpado para aliviar essa carga de impotência.

Estamos com a sensação de que o mundo mudou: percebemos menos agitação, menos poluição, menos consumo do supérfluo. Mais reflexão, mais convivência consigo mesmo (nem sempre é fácil se redescobrir) e com a família. Estamos mais solidários – no meu prédio colocamos um bilhete para que se as pessoas mais vulneráveis e sozinhas precisassem de ajuda, podiam contar com a gente; e deixamos nossos contatos no elevador. E percebo também muita gente apavorada! Inflexível sobre o isolamento e a paralisação das suas atividades.

Precisamos achar um equilíbrio nisso tudo. As pessoas (ainda) estão polarizadas. Então respire. Acalme-se. Abra mão daquilo que você não pode controlar e foque naquilo que você pode (sobre o vírus você não tem o controle, mas tem o controle sobre a prevenção – lavar as mãos, ficar em casa…).

Se buscarmos o equilíbrio agora – o aikido faz a gente estudar muito sobre isso, essa relação que tenho com o outro, que na maioria das vezes não conheço – tenho quase certeza que o mundo que encontraremos depois será mais humano e mais solidário. Ao invés de querer ter coisas, talvez busquemos “ser alguma coisa” que não aquilo que éramos. Tanta gente confinada, que mal saia para caminhar, dando valor ao sol, aos passeios ao ar livre, ao encontro com os amigos. Voltaremos diferentes, sem dúvida.

Então, faça mais daquilo que você não tinha tempo: por aqui foi a leitura e a séries de filmes que eu não tinha terminado. 🙂 Agora, tudo finalizado! rsrsrs. Voltei a estudar japonês e a escrever (sim, escrevo pra mim mesma, como um diário, há anos!).

Continue firme nas suas práticas diárias! Exercícios físicos ajudam a passar o tempo, a melhorar sua respiração e a manter a mente focada em você! Melhore aquela “pegada” no jo e no bokken – faça exercícios com armas (as do aikido, claro!) Tem um monte de gente na internet que está ajudando com o bukiwasa. Alongue-se! Muito! E se conseguir, comece a meditar! (mereço uma estrelinha nesse quesito: nunca consegui e agora, pouco a pouco, vou colocando na minha rotina).

Fiquem bem! Fiquem fortes! Fiquem em casa! Logo, logo, estaremos juntos, com nosso aikido muito melhor!

Gambate kudasai!

Arigatou!

artigo: https://medium.com/@anamarcela.sa/esse-desconforto-que-voc%C3%AA-est%C3%A1-sentindo-%C3%A9-luto-b480bb4644cc

5 comentários em “Aikido e o isolamento”

  1. querida Erika! mais uma vez te agradeço pelo tempo que voce coloca em compartilhar suas experiências e reflexões em torno ao Aikido e por consequência, a vida.
    Um grande abraco e nos vemos logo!

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